domingo, 19 de setembro de 2010

Armação gospel

"Por legitimação se entende o "saber" socialmente objetivado que serve para explicar e justificar a ordem social.

A religião foi historicamente o instrumento mais amplo e efetivo de legitimação. Toda legitimação mantém a realidade socialmente definida. A religião legitima de modo tão eficaz porque relaciona com a realidade suprema as precárias construções da realidade erguidas pelas sociedades empíricas.

A melhor maneira...seria aplicar a seguinte receita: interprete-se a ordem institucional de modo a ocultar o mais possível o seu caráter de coisa construída.

Que as pessoas esqueçam que esta ordem foi estabelecida por homens e continua dependendo do seu consentimento. Que acreditem que, executando os programas institucionais que lhes foram impostos, limitam-se a realizar as mais profundas aspirações do seu ser e a se porem em harmonia com a ordem fundamental do universo.

A religião legitima as instituições infundindo-lhes um status ontológico de validade suprema, isto é, situando-as num quadro de referência sagrado e cósmico.

Pode-se proceder a isto de diversas maneiras. Provavelmente a mais antiga forma dessa legitimação consista em conceber a ordem institucional como refletindo diretamente ou manifestando a estrutura divina do cosmos...Tudo "aqui embaixo" tem o seu análogo "lá em cima". Participando da ordem institucional, os homens participam do cosmos divino.

Ou em outro caso decisivo, a estrutura política simplesmente estende o poder do cosmos divino à esfera humana. A autoridade política é concebida como agente dos deuses, ou idealmente até como uma encarnação divina. O poder humano, o governo e o castigo se tornam, assim, fenômenos sacramentais, isto é, canais pelos quais forças divinas são aplicadas à vida dos homens para influenciá-los. O governante fala em nome dos deuses, ou é um deus e obedecer-lhe equivale a estar em relação correta com o mundo dos deuses."

Peter Berger em "O Dossel Sagrado"
_____________________________________

Isso ai é o Sr. Berger tirando algumas escamas dos nossos olhos.

Trocando em miúdos, é o seguinte: a legitimação mais eficiente é a que usa o nome de Deus. Dai os principais vagabundos gospel deste pais reivindicarem um status espiritual e começarem suas picaretagens com o famoso "Assim diz o Senhor...".

Entendeu?

Picaretagem legitimada e o nome de Deus usado em vão.

QUALQUER SEMELHANÇA COM FATOS, PESSOAS, ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS RELIGIOSOS, DOUTRINAS DE COBERTURA ESPIRITUAL OU LÍNGUAS ESTRANHAS LEGITIMANDO IDIOTICES NÃO É MERA COINCIDÊNCIA...MESMO!

Exercício de casa: Liga a TV...meu amigo, minha amiga! E fuja dos Malas...e dos Faias.


hugo theophilo...o theophilo não é legitimação...é sobrenome mesmo...rsrs

----

Hugo, metanoiando sempre no Metanoiado

sábado, 18 de setembro de 2010

Ministério de Louvor


Direto do tumblr do Pavablog

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A "morte" de Deus

Se Deus favorece sempre os mais ricos e abastados e quer que os pobres sofram, então Ele é uma lenda;
Do contrário, se Deus favorece sempre os pobres, de forma que enriqueçam, e quer que os ricos fiquem pobres, então Deus é em si mesmo uma grande contrariedade;
Se Deus precisa de mim, exclusivamente, para fazer qualquer coisa, então Deus é um fraco;
Se aos olhos de Deus, uns são profetas santos e outros ensandecidos seres humanos beirando o inferno, então Deus deveria limpar Seus olhos;
Se Deus escolhe sempre os homens sábios para fazê-los mais sábios ainda, então Zeus será meu Deus;
Se Deus não pode estar onde estou, se Ele não caminha comigo, se sou lançado no inferno todas as vezes que aquilo que alguns chamam de “instinto” me traem, então já não sei mais em quem confiar;
Se Deus me chama para ser cabeça e não cauda, se ele me trai todas as vezes que deixo de pagar promessas, se ele me amaldiçoa por não fazer barganhas, se ainda tenho em meu "currículo" um escrito de dívidas, se estou com o nome sujo no SPC/Serasa celestial, a quem recorrerei?

Estará Deus morto, no coração do homem, todas as vezes que esse tipo de deus se levantar.
Estará Ele longe, pois as nossas iniquidades é que nos separam, ou antes, que nos separavam, mas não mais.

Agora, se a verdadeira religião é socorrer os orfãos e as viúvas;
Se a verdadeira adoração consiste não em lugares ou formas, mas em espírito e verdade;
Se os homens, todos eles, são iguais diante dEle;
Se a água, o cajado, a rosa, e toda sorte (ou azar) de misticismos se tornam nada diante dEle, então, indubitavelmente, Ele está vivo;
Se a mais bela tribo indígena tem diante dEle uma consciência (ainda que não saibam), então, está Ele vivo;
Se olho para o céu azul, as nuvens, a natureza e consigo enchergá-lo, então, creiam, Eles está vivo em nós;
Se olho para o meu próximo e vejo Deus, meu próximo não é Deus, mas Deus ainda vive;

Vivemos com tanto medo de nossas quedas e fracassos que acabamos por criar para nós deuses que vão adiante de nós, que sejam comprados, vendidos, vencidos pelo nosso querer e vontade;
Que Deus nunca morra; Que Ele nunca perca o Seu poder e magestade; Que nada suplante a sua pessoa e presença;

Clayton, meditando sobre a vida e a morte de Deus dentro de cada um de nós.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Enquanto isso, em um culto aberto



Lá do ótimo Cristão Confuso

Caminho da Graça - Estação Santos

Vídeo da estação Santos do Caminho da Graça. Foi exibido no encontro nacional que aconteceu em Brasilia em Setembro de 2010.

Sobre potes e pobres



"O mundo social se esforça, na medida do possível, por ser considerado como uma coisa óbvia. A socialização obtém êxito na medida em que essa qualidade de ser aceita como coisa evidente é interiorizada. Não basta que o indivíduo considere os sentidos-chave da ordem social com úteis, desejáveis ou corretos. É muito melhor (em termos de estabilidade social) que ele os considere como inevitáveis, como parte e parcela da universal "natureza das coisas". Se isso for conseguido, o indivíduo que se desgarra seriamente dos programas socialmente definidos pode ser considerado não só como um idiota ou um canalha, mas como um louco. Subjetivamente, portanto, o desvio sério provoca não só culpa moral mas o terror da loucura." (Peter Berger)

Veja o mercado, uma construção humana (uma exteriorização da consciência humana) que adquiriu o caráter de realidade objetiva (fora do homem) e voltou-se sobre o homem exercendo influência sobre a sua subjetividade.

Pois bem, pais que consideram precisar de muitas coisas (desnecessárias) para o nascimento de um filho, demonstram com isso o sucesso dos mecanismos de legitimação do mercado. Mercado que vincula bem-estar e segurança a mercadorias a serem adquiridas.

Hoje um recém-nascido precisa de um conjunto de potes de acrílico onde se colocam cotonete e algodão. Os potes custam R$ 128,00 (cento e vinte e oito reais).

Batizar esses potes com o nome de "Kit Higiene" é uma tentativa de legitimação. Lembre-se, é mais do que desejável que se tenha higiene com um recém-nascido. É mais do que desejável, É ÓBVIO. Quando essa obviedade é interiorizada pelo indivíduo os potes já estão associados a ela...rsrs

Quem não consegue comprar os potes sente culpa. Quem se recusa a comprá-los é louco!

"A civilização é uma multiplicação ilimitada de necessidades desnecessárias." - Mark Twain

Fica mais fácil entender porque os pobres (ainda que de espírito) é que são os bem-aventurados?


hugo "louco" theophilo

----

Hugo Theophilo, mano que escreve no Metanoiado

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

[Livro] Sem Barganhas com Deus


Caio Fábio - 277 páginas - Fonte Editorial

Sinopse

"Em Sem barganhas com Deus, o Rev. Caio Fábio d Araújo Filho questiona algumas práticas pseudocristãs muito comuns dentro das igrejas, agrupando-as no que ele denomina a Teologia da Moral de Causa e Efeito, regra geral, muito apreciada pelo legalismo insensível dos chamados."Amigos de Jó". Por meio de uma linguagem que mistura erudição, coloquialismo, expressões teológicas consagradas, um bem elaborado jogo de palavras e criativos neologismos, Caio Fábio interage constantemente com o seu paz-ciente Lei-tor, discutindo com muita coragem e contundentes argumentos bíblicos acerca do contraste entre o moralismo farisaico e a mensagem da graça, amor, justiça e redenção, presentes no Evangelho de Jesus. Sem barganhar." Jaime dos Reis Sant Anna

---

Eu li e apreciei muito o livro, recomendo à todos.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A Trindade Contemporânea (Versão atualizada)





Certo dia os espíritos deste mundo se reuniram em uma mesa de bar na França: Tio Sam, Jesuzés e Papai Noel, e disseram: - Refaçamos o homem a nossa imagem e semelhança, assim Tio Sam desenhou o homem em papel moeda e soprou-lhe nas narinas o fôlego de consumo e chamou ele “Manufaturo”; e viu que dava lucro...


Após ter criado, viu que este se sentia só, e lhe recolheu das suas entranhas oito horas de seus dias e fez uma companheira, e lhe deu o nome de “Salária”; e viu que dava lucro... 

E no sétimo dia Tio Sam se preocupou!... Porque o homem iria ficar de bobeira, e passou a responsabilidade para Jesuzés.

E viu Jesuzés que o homem precisava ocupar seu tempo “livre” com regras, superstições e fobias coletivas e criou as religiões. Precisava reforçar na consciência de “Manufaturo” e “Salária” que se estivesse bem com Jesuzés seriam pessoas de valor, e valor é igual a poder e dinheiro, além de que, deveriam de alguma forma tentar compra as suas vidas após a morte e aceitarem-se na condição de “ferramentas” ou simplesmente massa de manobra nas mãos de “seres tutoriais” superiores mais próximos de Deus ou deuses; e viu que dava lucro...

Jesuzés ressuscitou no “Manufaturo” o medo existencial de viver em sinceridade diante das próprias limitações; e viu que dava lucro...

E no sétimo dia saiu de cena; porque se algum dia a vida do “Manufaturo” desandar, ele vai colocar a culpa na falta de fé dele!... , mas deixou um “consolador”: - O Papai Noel.

Já o Papai Noel realiza os sonhos de “Manufaturo” e criou a promoção relâmpago, queima total, saldão de Natal, e parcelamentos a perder de vista; e viu dava lucro... 

Noel tem a fácil missão de demonstrar que você pode esquecer a sua família, seus pais e amigos durante o ano inteiro e recompensá-los no Natal, e que se não ter tempo para amá-los, mas pelo menos, poder conceder-lhes bons presentes de acordo com a ambição de cada um, dês das crianças até os anciãos (assim como nosso pai Jesuzés nos ensinou...); e viu que dava lucro...

...E que alguém há muito tempo atrás nasceu pobre e sem plano de saúde, e que nunca teve uma ceia de Natal tão farta quanto a que “Manufaturo” ostenta aos seus convidados. E infelizmente, como alguém há muito tempo atrás não gostava de falar em bens de consumo, de poder, e que não serve como garoto propaganda para vender geladeiras; Papai Noel passou a representá-lo legalmente (e disse que essa outra história é uma lenda e que faz parte da tradição do Natal).

O mais importante e que Papai Noel reforça e ajuda a manter a boa anestesia que reina no coração de “Manufaturo” e sela a obra de Tio Sam e Jesuzés com uma perfeição maestral.

E no sétimo dia descansou sentado num trono de saguão de Shopping recebendo e assanhando as criancinhas no seu colo e perguntando: ”- Que sê quer ganhar?!...” enquanto contempla o ápice da invenção.

...Há pouco tempo atrás eles se reunião novamente para mais uma empreitada: comprar uma mascote ou algo para degustar, unindo está imprecisão Jesuzés sugeriu:

- Por que não juntamos um Coelho com chocolate?!... 

Leandro Ribeiro


----


Leandro é mano de caminhada e escreve no De frente com a Vida

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O Grande Público de Jesus





Nos últimos anos vemos brotar a moda de grandes eventos de mega proporções que reúnem milhares de pessoas em prol dos maiores aspirações da sociedade, ou apenas para ostentar a força do neocristianismo. 
Pessoas estas que por vontade, falta de bom senso ou personalidade, se tornam mera massa de manobra político-religiosa na mão de aproveitadores da fé, que sorrateiramente apresentam este povo a mídia e a indústria e dizem: - Eles consomem!... Comem, vestem, calçam, assistem e lêem aquilo que eu digo que é bom?!... 
Interessante como é fácil transformar um em um milhão com uma simples pergunta: 
- Você quer [precisa de] um milagre?!... 
Basta este início e o mínimo de conhecimento bíblico-legalista que qualquer oportunista vira grande líder religioso.
Esquecem que Cristo para reunir multidões (sendo as multidões de Dele compostas por: caluniadores, curiosos, famintos, enfermos, toda escória da sociedade e raros interessados no assunto) nunca vendeu ou negociou e muito menos “marketeou” milagres para atrair pessoas; seus maiores milagres era o despertar da consciência das poucas pessoas mais humildes e realmente necessitadas, e para estes dava importância; os demais vinham como conseqüência... 
Agora imaginem: Cristo entrando pela manhã em uma cidade, com os doze discípulos com camisetas silkadas, entregando folhetos e dizendo que haverá um grande Show a Tarde com o verdadeiro, único e inigualável filho de Deus em curta temporada na Terra; que haverá muita música, milagres e curas; e no final o sorteio de um bezerro de ouro!... 
Já na parte da tarde, Cristo se concentra com seus seguidores no ponto mais populoso, embaraçado e central da cidade causando um tumulto geral. Cercado de seguranças e acompanhado pelos lideres romanos locais. Depois da apresentação das atrações Gospel dos cantores Barrabás (ex-criminoso) e Salomé (ex-amante de celebridade), Ele se apresenta; passa um bom tempo reclamando da dificuldade que é montar um evento de grande porte; que precisa muito de dinheiro para continuar apresentando o Show em outras cidades, faz meia dúzia de milagres e encerra a Sua apresentação cantando abraçado com Poncio Pilatos, anunciando que no dia seguinte haverá uma grande marcha p’ra Jesus até o Mar da Galileia!...
Pense: você já viu essa narrativa em algum lugar!... 

Leandro Ribeiro


----


Leandro é um mano de caminhada que escreve suas reflexões no De frente com a Vida

LinkWithin